terça-feira, 24 de junho de 2008

amanhece

Brasil.
Terra onde o jardineiro pisa na grama,
a polícia avança o sinal vermelho, e o político rouba
a suada grana da população.

Brasil.
Terra do ninguém.
Dos espertos da mídia,
que também assaltam as casas,
levando a pouca filosofia que mora...ali.

Brasil.
Estranho por natureza.
Doente por vocação.
Do cachorro doido,
solto na rua.

Corpos se amontoam
nas calçadas de manhã,
massa preta de manobra, dos humanistas,
comunistas e seminaristas.

sábado, 14 de junho de 2008

Já disse que gostei de praia. Corria, soltava pipa e jogava muita, muita bola. Mas algo que não entendia, é aquele pessoal ficar em pé olhando o horizonte de costas para o território. Hoje, pagando essa carga tributária, e sendo obrigado a ouvir discurso de analfabeto, descobri: Estão até agora esperando as caravelas nos resgatar, e nos levar de volta à Metrópole.
Ninguém queimou os navios, como Cortez ordenou no México. O Imperador se foi pelo mar e não nos levou, e desde então ficamos em pé na beira dágua olhando o horizonte. De vez em quando um chicabom.

Esse inconsciente coletivo de saque que enxergo nos homens públicos, essa vontade irresistível de se jogar lixo na rua, avançar o sinal vermelho, desrespeitar as leis, flertar com a ilegalidade (até marcha da maconha), financiar mudança de sexo. A sensação permanente que tenho de viver no meio de uma multidão de lobotomizados ou drogados, "orgulho de ser brasileiro" - orgulho de que ? não fiz nada pra isso, só nasci aqui. Agora assisto a democracia banguela fazer das suas.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

National Kid.

Em 1966 o mar tinha cheiro forte de marisia aqui no Rio. Inesquecível, como as mulheres inalcançáveis que passavam de lenço no cabelo dentro de conversíveis na Av. Atlântica. Me lembro do posto 6 e o neon azul da TV Rio. Eu assistia o National Kid. Estranho um japônes que era um herói de capa e voava, sua arma era uma lanterna que 'matava' os alienígenas. Os incas venuzianos se ferravam.

Nunca entendi sua origem, até recentemente. Naquela época, no japão, os rádios eram de válvulas e cada família possui um, que na sala, monopolizava as atenções e cuidados (vovó passava óleo de peroba no bruto), e a programação era ditada pelo dono da casa.

Veio o transistor, e então os rádios ficaram menores e cada um podia ouvir o programa que quizesse. Pois bem, os rádios pequenos só foram possíveis por que os japoneses fizeram pilhas pequenas. E quem foi o primeiro a fabrica-las ? A National. Como as pilhas eram pequenas: kid. Resultado dessa história: meu herói estranho, era uma propaganda de pilhas. Bom, depois disso fui ler 'O mundo como representação e vontade" e entendi tudo. Auica.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Meu herói

Como meus milhares de leitores podem verificar aí do lado, gosto de Teratologia. Bom, a princípio, no Aurélio, essa palavra poderá ser definida como 'estudo de monstruosidade", vem do grego (vê lá):'narração de coisas maravilhosas'. O Homem em sua história, usa e abusa dos monstros. Quanto mais atemorizado está o Homem, frente ao futuro, maiores eram (e são) os monstros. Na grécia, local onde a sucessão de vales e montanhas predomina, a imaginação foi bastante longe em suas criações. O Minotauro é um exemplo típico: cabeça de touro e corpo de homem. Psicanálise nele ! Seria um homem governado por seus institos animais ? Os pulsões de Freud ? Mas, aí vem a melhor parte, o montrinho mora em um labirinto. Há labirinto maior do que a personalidade humana ? Pra piorar vai. Quem projetou o labirinto ? O pai do Minotauro, o grande arquiteto Fídias. Bom aí a psicanálise é total, né não ? Bom, tem um cara querendo acabar com o Minotauro, o Teseu, aquele chato. Como entrar no labirinto e não se perder ? Acertou ! Uma moçoila (Ariadne) segura a ponta (epa !) de uma linha, e Teseu segurando a outra ponta (opa, epa) se orienta no labirinto, e mata o Minotauro sem espada (sem instrumento), com as mãos. Em um salto, segura pelos chifres e puxa o pescoço do monstro para trás, quebrando-lhe o pescoço, "separando" a parte humana da parte animal. Acredito ser a moça a psicanálise, ou a religião, ou a cultura, a ciência, ou a moral humana, que guia o Homem para esse eterno aperfeiçoamento. Mas observe que se a "moça" soltar a cordinha, há de se perder no labirinto pela loucura, fanatismo, vaidade, presunção ou a tirania, respectivamente.

Pôxa, comecei o texto querendo falar do Nacional Kid.....

sexta feira no centro

Centro da Cidade. 20 h. Tomo uma cerveja na porta do bar. Ponto final de van. Um sujeito com cara de pinguço começa a puxar papo. Chegam três conhecidos dele e ele me brinda com sua ausência momentâneamente. Volta com algumas revistas, e me dá uma para ler dizendo que aquela era 'revista de trabalhador'. Folheio. É revista da CUT. Só me resta devolver um ar de perplexidade para o pinguço, respondo como um crente cretino que sou : 'Só o trabalho tira o sindicalismo do corpo das pessoas'. O dono da van grita: 'meierengenhonovopiedadequintinocascaduracampinho'. O pinguço agora distribui o panfleto para os caras que trabalham no ar. Faz ar sério, socialista, sindicalista. Aí aproveita e pede um traçado, que ninguém é de ferro.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Arte da Prudência

Dando prosseguimento aos textos modernos, 'A arte da Prudência' de Baltazar Gracian, se destaca pela beleza e a surpreendente origem. Jesuita do século XVII, a profundidade de suas reflexões atravessam o tempo. Enquanto uns trabalham para irem para o lixo da história (o esquecimento) eis que esse padre, isolado, em suas meditações não será jamais esquecido:

'Nunca esgotar o mal nem o bem - à moderação em tudo reduziu um sábio toda a sabedoria. O que é direito demais acaba torto, e a laranja que muito se espreme chega a dar amargor. Mesmo na fruição nunca se há de chegar aos extremos. O próprio engenho se esgota se sangrado, e arrancará sangue em vez de leite quem chegar à última gota do tirano"

Ainda Etienne.

"Pobre gente e miserável, povos insensatos, nações obstinadas em vosso mal e cegas ao vosso bem, deixai roubar, sob vossos próprios olhos, o mais belo e o mais claro de vossa renda, pilhar vossos campos, devastar vossas casas e despojá-las dos velhos imóveis de vossos ancestrais! Viveis de tal modo que nada mais é vosso. Parece que doravante coinideraríeis uma grande felicidade se vos deixassem apenas a metade de vossos bens, de vossas famílias, de vossas vidas. E todo esse estrago, esses infortúnios, essa ruína enfim, vos advém não dos inimigos mas sim, por certo, do inimigo, e daquele mesmo que fizestes como ele é, por quem ides tão corajosamente à guerra e para a vaidade de quem vossas pessoas nela enfrentam a morte a cada instante. Esse senhor porém, só tem dois olhos, duas mãos, um corpo e nada além do que tem o último habitante de uma de vossas cidades. "

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Reclamações

Um de meus inúmeros leitores reclamou, com alguma razão haverei de convir, sobre o excesso de tecnologia em meu blog. Atendendo a esse apelo, lançarei um trecho de um texto bem recente do Etienne La Boétie em seu "Discurso da Servidão Voluntária".

Apesar de se encaixar nos esquerdeopatas atuais, esse belo texto foi escrito na época que o planeta não conhecia ainda, essas tristes criaturas (1577 primeira edição):

"Viva a liberdade ! Vários animais morrem assim que são capturados, peixes se deixam morrer para não sobreviverem à sua liberdade natural. Outros, dos maiores aos menorzinhos, quando apanhados, resistem tanto com as unhas, os chifres, os pés e o bico que por aí demonstram ao bem que lhe roubam. Uma vez capturados, dão-nos tantos sinais aparentes do sentimento de seu infortúnio, que é bonito vê-los desde então languir em vez de viver, não se comprazendo nunca na servidão e lamentando continuamente a privação de sua liberdade.

Em suma, se todo ser que tem o sentimento de sua existencia sente o infortúnio da sujeição e procura a liberdade; se os bichos, até os criados para o serviço do homem, só podem se submeter depois de protestarem um desejo contrário- que vício infeliz pode então desnaturar tanto o homem, o único que realmente nasceu para viver livre, a ponto de fazê-lo perder a lembrança de sua primeira condição e o próprio desejo de retoma-la ?

Há três tipos de tiranos. Falo dos maus Principes. Uns possue o Reino por eleição do povo, outros pela força das armas, e os outros por sucessão da raça. Os que o adquiriram pelo direito da guerra comportam-se nele como em terra conquistada, como se bem sabe e se diz, com razão. Comumente, os que nascem reis não são melhores; nascidos e criados no seio da tirania., sugam com o leite o natural do tirano, consideram os povos a eles submetidos como seus servos hereditários; e segundo a tendência a que estão inclinados, avaros ou pródigos, se utilizam do Reino de sua própria herança.

Quanto àquele cujo poder vem do povo, parece que deveria ser mais suportável, e creio que o seria, se, desde que se visse elevado a lugar tão alto, acima de todos os outros, lisonjeado por um não sei quê que chamam de grandeza, não tomasse a firme resolução de não descer mais.
Quase sempre considera o poderio que lhe foi confiado pelo povo como se devesse ser transmitido a seus filhos. Ora, quando eles a ele conceberam essa idéia funesta, é realmente estranho ver como superam todos os outros tiranos em vícios de todo tipo e até em crueldades. Não encontram melhor maneira de consolidar sua nova tirania senão aumentando a servidão e afastando tanto as idéias de liberdade do espírito de seus súditos que, por mais recente que seja a sua lembrança, logo ela se apaga. "

domingo, 8 de junho de 2008

Biodiesel - que trem difícil, sô.

Estou debruçado sobre a questão do Biodiesel.
É complexo quando pensamos nos desdobramentos.
Nos discursos dos leigos, petróleo é gasolina. A Honda com a Shell, já operam protótipos bem consolidados de automóveis elétricos (eles têm uma joint venture para esse desenvolvimento).
Imaginem, 90% do comércio mundial é realizado por meio marítimo. E o que move o navio é o combustível residual, chave do mercado futuro globalizado. Que gasolina que nada. Precisamos de combustíveis para mover a indústria. O gás ao invés de estar em turbinas para geração elétrica está em carros de particulares, uma afronta ao bom senso.
Estamos, aqui no Brasil, ainda fora das grandes rotas de navegação e portanto nosso frete é mais caro, trazer ou levar os produtos do Brasil custa mais. Só com a intensificação de nosso comércio, o aumento do mercado interno, valerá a pena entrarmos no fluxograma das grandes linhas. Apesar da Austrália estar físicamente no mesmo continente, ela está no hemisfério norte, é ali, logo abaixo do Japão. Do sudeste asiático, da grande India.

Emissões, Mitigação, Fuligem

Acabo de ler a entrevista na Veja, naquela seção das páginas amarelas, é sobre emissões atmosféricas. O cientista em questão não é cético, como sugere o título da matéria, mas simplesmente ele não concorda em se gastar dinheiro mitigando as emissões, mas sim investindo maciçamente na descoberta de novas tecnologias. Concordo quase totalmente com esse ponto de vista, mas acredito que deve haver mitigação sim. É necessário tomarmos atitudes agora, pelo menos do ponto de vista de racionalizar as emissões tanto de CO2, como de fuligem, com o que já está sendo feito. Há excessos de origem apocalíptica, como a proposta de se passar ao consumo de diesel nos motores marítimos, é sem dúvida um contrasenso, pois adaptar refinarias e aumentar as emissões de CO2 (gasta-se mais energia para processar diesel do que processar bunker). Aumentar a fiscalização e/ou trabalhos de incentivos à redução de poluição (linhas de crédito para proprietários de caminhões para a renovação da frota por exemplo), acredito que seria bem mais efetivo. Aqui no Brasil, podemos observar que apesar de produzirmos o diesel metrolpolitano, com o teor de enxofre bem baixo, emitimos muito a partir de problemas primários, como congestionamento que podem ser resolvidos e desempenho errático dos motores diesel. A limitação de hidrocarbonetos voláteis seria outro ponto de ganho, que não está legislado em nossas cidades e que necessita urgentemente de regulamentação.

Lixo, Planeta, Emissões, Informações, Engenharia.

Lixo e Planeta

Acabo de ouvir a última "interpretação" feita pela WWF, sobre a quantidade de lixo gerado pelas classes A e B brasileiras. Segundo essa interpretação: 'se o mundo consumisse o que a classe A e B brasileiras consomem, seria necessário dois ou três planetas". Interessante como dados científicos são "interpretados" por alguém, de uma ONG e isso ganha o interesse de jornalistas, que vinculam uma coisa dessas em algum tipo de mídia. Nesses tempos de grande trânsito de informações, temos que cuidar para não "comprar" gato por lebre.No caso citado, o intérprete deve ter apanhado os dados de consumo e multiplicado pelo número de habitantes da terra. Os números devem ser extremamente altos e aí, ele lança a máxima sobre a necessidade de se ter mais dois planetas para esse tipo de consumo. E se, por exemplo, a população fôsse a metade do numero que ele multiplicou e se fôsse um terço ? Um planeta daria para suportar ? E se as classes A e B, consumissem o que os bosquímanos sul africanos consomem. Um planeta seria suficiente ?